A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), também conhecida como lagarta-militar, destaca-se como uma das principais pragas na cultura do milho (Imagem 1). Este inseto polífago possui ciclo de vida rápido, e suas lagartas recém-eclodidas inicialmente raspam as folhas mais jovens e, à medida que crescem, passam a perfurar folhas e se alimentar do cartucho da planta, causando danos significativos que podem comprometer a produtividade da lavoura. Quando não manejada adequadamente, S. frugiperda pode levar a perdas expressivas na produção de milho.
No Brasil, as principais estratégias para o controle dessa praga incluem o uso de cultivos geneticamente modificados com proteínas inseticidas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), além da aplicação de inseticidas químicos e biológicos. Entretanto, a utilização excessiva de um único método pode favorecer a seleção de indivíduos resistentes, comprometendo a eficiência das tecnologias disponíveis e tornando o manejo mais desafiador.
O plantio sucessivo de culturas hospedeiras, como milho, soja e algodão, favorece a permanência e o aumento populacional da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), mantendo a praga ativa ao longo do ano. A adoção contínua de uma única estratégia de controle, como o uso repetitivo da mesma proteína Bt ou de um inseticida específico, exerce elevada pressão seletiva sobre a população da praga. Como consequência, os indivíduos que apresentam resistência natural sobrevivem, multiplicam-se e disseminam essa característica, comprometendo a eficiência das estratégias de manejo.
A continuidade desse ciclo torna o manejo da Spodoptera frugiperda progressivamente mais desafiador, resultando na diminuição ou até na perda da eficácia das ferramentas de controle. Estudos científicos relatam casos de populações resistentes, tanto a proteínas Bt quanto a inseticidas, identificadas em condições de campo.
Segundo Tabashnik et al. (2023), o número de casos documentados de resistência prática a culturas Bt aumentou de 3 em 2005 para 26 em 2020. A Spodoptera frugiperda está entre as pragas que apresentam populações resistentes a diversas proteínas Bt cristalinas (Cry), prejudicando sua eficiência em diferentes regiões agrícolas.
Em relação aos inseticidas, um estudo realizado por Muraro et al. (2022) sobre a mortalidade resultante da aplicação de um inseticida utilizado no Brasil revela que populações de Spodoptera frugiperda coletadas em campo no Brasil, nos períodos de 2003 a 2004 e de 2019 a 2021, apresentaram mudanças significativas na redução da suscetibilidade ao inseticida analisado, fornecendo evidências sólidas de seleção de indivíduos resistentes em campo.
Diante da complexidade do controle da S. frugiperda, a adoção de um conjunto de boas práticas é fundamental para reduzir danos à lavoura e prolongar a durabilidade das ferramentas de controle. Entre as principais práticas recomendadas estão:
A presença contínua de plantas daninhas, culturas anteriores e plantas voluntárias pode servir de abrigo e fonte de alimento para a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), facilitando sua sobrevivência e proliferação. A prática da dessecação antecipada é recomendada para eliminar essas fontes hospedeiras, interrompendo o ciclo de vida da praga e reduzindo sua população antes do estabelecimento da nova cultura. Além disso, essa medida contribui para a formação de palhada, que protege o solo contra erosão e auxilia na conservação da umidade, além de facilitar as operações de plantio.
O tratamento de sementes é essencial para proteger as plantas em seus estágios iniciais, quando apresentam pouca área foliar e são mais vulneráveis à ação das lagartas. O tratamento industrial melhora a cobertura da semente pelo ingrediente ativo, aumentando sua eficácia. Todos os híbridos de milho Pioneer® são comercializados com tratamento de sementes industrial, proporcionando um controle inicial eficiente, graças à ação do Dermacor®.
Para saber mais sobre o TSI Pioneer®, acesse: https://www.pioneer.com/br/tecnologias/tratamento-de-sementes.html.
O monitoramento frequente é indispensável para um manejo eficiente. Mesmo em lavouras com milho Bt, a presença da praga deve ser avaliada regularmente, pois, em alguns casos, a aplicação de inseticidas pode ser necessária. Vale ressaltar que o uso da tecnologia Bt é apenas uma das ferramentas no manejo integrado de pragas, devendo ser combinada com outras boas práticas agrícolas.
O monitoramento contínuo da lagarta-do-cartucho é fundamental para um manejo eficiente, mesmo em lavouras de milho Bt. A observação regular permite identificar rapidamente infestações e determinar a necessidade de intervenções adicionais, como a aplicação de inseticidas, especialmente quando a população da praga atinge os níveis de controle estabelecidos. É importante destacar que a tecnologia Bt deve ser integrada a outras práticas de manejo, como o uso de inseticidas seletivos e o controle biológico, para garantir a sustentabilidade e eficácia do controle de pragas.
O uso da Escala Davis auxilia na tomada de decisão quanto à necessidade de controle químico (Imagem 3). Ela é uma ferramenta utilizada para avaliar a severidade de ataques de pragas em plantas. A escala é importante no manejo integrado de pragas, pois permite um monitoramento mais preciso e ajuda a evitar aplicações desnecessárias de defensivos agrícolas, reduzindo custos e impactos ambientais.
Para lavouras com híbridos Pioneer® contendo as tecnologias Leptra® ou PowerCore® ULTRA, recomenda-se a aplicação de inseticidas quando o monitoramento indicar 4% de plantas danificadas com nota igual ou superior a 3 na Escala Davis.
A pulverização deve ser realizada preferencialmente em lagartas em instar iniciais, pois inseticidas químicos e biológicos são mais eficazes contra insetos nesses estágios (Imagem 4).
Sempre que for necessário o uso de defensivos agrícolas, é fundamental respeitar as boas práticas de aplicação e seguir as orientações da empresa responsável pela formulação do produto utilizado.
O inseticida Exalt®, desenvolvido pela Corteva, é uma ferramenta eficaz no manejo da lagarta-do-cartucho. Com mecanismo de ação inovador, ele atua especificamente no sistema nervoso da lagarta, levando ao controle da praga. Exalt® apresenta efeito de choque e alto residual, para proteger o milho rapidamente e por mais tempo. Utilizar essa ferramenta no início das raspagens significa uma melhor efetividade de controle prolongado, ressaltando a importância do conceito “Exalt® de primeira”.
O uso de Exalt® em um manejo integrado contribui para a redução da pressão de seleção sobre a praga, evitando o desenvolvimento de resistência rápida. Quando aplicado de acordo com as boas práticas recomendadas, o produto auxilia na redução dos danos causados pela lagarta-do-cartucho, otimizando a produtividade e garantindo a longevidade das tecnologias utilizadas.
A diversificação de cultivos reduz a pressão de seleção sobre a praga, dificultando sua adaptação e interrompendo ciclos contínuos de infestação. Além disso, essa prática traz benefícios adicionais, como a melhoria da qualidade do solo, a redução da incidência de doenças e a otimização do manejo de plantas daninhas por meio da alternância de herbicidas.
A adoção de boas práticas de manejo não apenas melhora o controle da Spodoptera frugiperda e minimiza seus impactos na produtividade, mas também contribui para a preservação da eficácia das tecnologias disponíveis. O uso racional de proteínas Bt, inseticidas e práticas agronômicas diversificadas promove uma agricultura mais sustentável e resiliente a desafios fitossanitários.
Autora: Letícia Oliveira de Paula, agrônoma de campo Pioneer®.
ABRASEM – Informativo Técnico - Boas Práticas Agronômicas Aplicadas a Plantas Geneticamente Modificadas Resistentes a Insetos. Disponível em: https://boaspraticasagronomicas.org.br/wp-content/uploads/2015/12/Apresentacao_Abrasem_2014_ok.pdf. Acesso em: 03 out. 2023.
IRAC - Níveis de ação recomendados para o manejo de áreas de refúgio para a cultura do milho. Disponível em: https://www.irac-br.org/single-post/n%C3%ADveis-de-a%C3%A7%C3%A3o-recomendados-para-o-manejo-de-%C3%A1reas-de-ref%C3%BAgio-para-a-cultura-do-milho. Acesso em: 04 out. 2023.
TABASHNIK, B. E.; FABRICK, J. A.; CARRIERE, Y. Global Patterns of Insect Resistance to Transgenic Bt Crops: The First 25 Years. Journal of Economic Entomology, v. 116, n. 2, p. 297-309, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1093/jee/toac183. Acesso em: 03 out. 2023.
MURARO, D. S. et al. Evidence of field-evolved resistance in Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) to emamectin benzoate in Brazil. Crop Protection, v. 162, p. 1-9, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.cropro.2022.106071. Acesso em: 03 out. 2023.