18/12/2025

Escaldadura foliar por calor no milho: fatores de ocorrência, sintomas e pontos de atenção

 
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Escaldadura foliar em milho

Pontos-chave

  • Temperaturas elevadas associadas ao estresse hídrico podem provocar danos ao tecido foliar do milho, caracterizando a escaldadura solar.
  • O problema pode manifestar-se tanto em áreas irrigadas quanto em lavouras de sequeiro.
  • Quando ocorre em baixa intensidade, a escaldadura por calor geralmente não compromete o rendimento da cultura.
  • A condição pode aparecer em diferentes estádios do desenvolvimento do milho.
  • Práticas agrícolas que favoreçam melhor condicionamento do solo, maior capacidade de armazenagem de água e desenvolvimento radicular mais profundo contribuem para reduzir ou evitar a ocorrência da escaldadura.

Na fase inicial de desenvolvimento

As plantas podem sofrer superaquecimento quando há grande influxo de energia absorvida combinado a uma dissipação insuficiente de calor. A maioria das espécies vegetais não tolera exposição prolongada a temperaturas superiores a 45 ºC.

Células e tecidos que não estão em crescimento, ou que se encontram desidratados (como sementes), podem suportar temperaturas muito mais elevadas do que tecidos hidratados ou em crescimento ativo. Por isso, durante o período de maior atividade vegetativa, quando o tecido foliar é mais tenro, as plantas tornam-se extremamente sensíveis ao calor (Imagem 1).

A baixa cobertura de palha na superfície do solo, ou sua ausência, aumenta a amplitude térmica do solo. Essa condição prejudica a fisiologia e o desenvolvimento do sistema radicular, especialmente das raízes nodais responsáveis pela fixação da planta, podendo resultar na síndrome da planta “frouxa”.

Imagem 1 - Plântula de milho com escaldadura foliar causada por temperaturas extremas | Foto: Fernando Zanatta.
Imagem 1 - Plântula de milho com escaldadura foliar causada por temperaturas extremas | Foto: Fernando Zanatta.

  

Imagem 2 - Lesão de escaldadura por calor em folha de milho | Foto: José Madalóz.
Imagem 2 - Lesão de escaldadura por calor em folha de milho | Foto: José Madalóz.

Na fase de desenvolvimento vegetativo

As limitações impostas por altas temperaturas tornam-se mais complexas e de difícil detecção, especialmente quando estão associadas ao déficit hídrico durante períodos de estiagem com elevada demanda evaporativa atmosférica. No milho, o déficit hídrico provoca o enrolamento das folhas e o fechamento dos estômatos. A redução do fluxo transpiratório altera o balanço energético foliar, podendo gerar acúmulo de calor e elevação da temperatura dos tecidos. Embora os danos possam ser parciais e reversíveis, há risco de senescência precoce e morte de grande parte da área foliar.

A queimadura solar ocorre quando a movimentação da água até e através das células foliares não acompanha a taxa de evapotranspiração desses tecidos. Folhas jovens e folhas orientadas diretamente para o sol são as mais suscetíveis. O tecido afetado pode adquirir coloração prateada ou acinzentada, evoluindo para secamento em poucos dias (Imagem 2). A escaldadura foliar por calor tende a não progredir ao longo da folha.

A injúria também pode ocorrer em folhas ainda enroladas no cartucho. A presença de água na superfície foliar, seja por orvalho ou irrigação, pode intensificar o dano térmico, pois a água é rapidamente aquecida sob temperaturas extremas. A ocorrência de precipitação pode mitigar parcialmente os efeitos do calor excessivo, mas não elimina completamente o risco.

Imagem 3 - Lesão de escaldadura por calor no pendão | Foto: Fernando Zanatta.
Imagem 3 - Lesão de escaldadura por calor no pendão | Foto: Fernando Zanatta.

Na fase de desenvolvimento reprodutivo

Podem ocorrer lesões no pendão; contudo, esses danos geralmente são pontuais dentro da área e, na maioria das situações, não reduzem a eficiência da polinização (Imagem 3). Em cenários de déficit hídrico combinado a temperaturas elevadas, também pode haver ocorrência de escaldadura nas folhas da espiga e nas brácteas (Imagem 4).

Imagem 4 - Lesão de escaldadura por calor nas folhas da espiga (palha) | Foto: José Madalóz.
Imagem 4 - Lesão de escaldadura por calor nas folhas da espiga (palha) | Foto: José Madalóz.

     

Imagem 5 - Evolução dos sintomas de escaldadura | Foto: Thiago Prado.
Imagem 5 - Evolução dos sintomas de escaldadura | Foto: Thiago Prado.

Distinção de outros sintomas

Em algumas situações, a escaldadura por calor pode ser confundida com sintomas de outras ocorrências (Imagem 6), tais como:

  • fitotoxidez causada por defensivos;
  • queima foliar em plântulas devido à proximidade da semente ao adubo, especialmente quando se utilizam fertilizantes de maior salinidade;
  • doenças foliares com aspecto de queima, como a mancha de turcicum;
  • queima do tecido foliar decorrente da concentração de adubo no cartucho da planta.

Imagem 6 - Fitotoxidez de fungicida (A), queima de tecido foliar por adubo nitrogenado (B), lesão de turcicum (C) e fitotoxidez de herbicida (D) | Fotos: José Madalóz e Thiago Prado.

Sintomas na bordadura

Sintomas mais intensos e frequentes podem ser observados nas bordaduras da lavoura em razão da maior exposição ao vento, especialmente nos lados oeste ou sul. Além do efeito do vento, essas áreas costumam apresentar maior compactação do solo devido ao tráfego repetido de máquinas durante a colheita das culturas. A compactação limita o desenvolvimento do sistema radicular e reduz a capacidade de armazenamento de água no solo.

Na safra 2020/21, no município de Entre Rios do Sul/PR, foram observados danos de escaldadura na bordadura localizada no lado sul, que também correspondia à posição de maior elevação da área (Imagem 7).

Imagem 7 - Ortomosaico com imagens de drone da área (A); ortomosaico de saúde vegetal, destacando a porção com maior intensidade de sintomas de escaldadura (B); e ortomosaico de altitude (C), município de Entre Rios do Oeste/PR | Fonte: imagens produzidas no DroneDeploy por Fernando Zanatta.

Conclusão

A escaldadura é resultado direto da combinação entre calor extremo e déficit hídrico, agravada por fatores como baixa cobertura de solo, compactação e maior exposição ao vento, especialmente nas bordaduras. Os sintomas variam conforme o estágio da cultura e podem lembrar outras injúrias, o que reforça a importância de observar o contexto de clima, manejo e posição na lavoura. Mesmo que, na maior parte das situações, não comprometa o rendimento, reconhecer o fenômeno e entender as condições que favorecem sua ocorrência ajuda o produtor a interpretar corretamente o problema no campo.

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Autores: José Madalóz, gerente de agronomia Pioneer® - Sul; Fernando Zanatta e Thiago Prado, agrônomos de campo Pioneer®.