Nos Estados Unidos existe um concurso nacional de produtividade de milho, o qual oferece uma excelente oportunidade para a discussão de tecnologias que contribuem para elevar a média de produtividade geral dos produtores. Nesta publicação pretendemos mostrar a realidade das áreas que tiveram produtividade média superior a 300 sc/ha nos EUA. É importante ressaltar que são práticas que se encaixam perfeitamente para as condições dos produtores americanos, sendo interessante ler e comparar com a realidade do Brasil, para eventuais adaptações.
Os aumentos de produtividade em milho nos EUA começaram com a introdução dos híbridos há aproximadamente um século, e vem aumentando a cada dia. Nos últimos 20 anos, a média de incremento de produtividade foi de 1,8 sc/ha ao ano. Este ganho é resultado do melhoramento vegetal, introdução de eventos transgênicos e melhores práticas agronômicas que permitam que o máximo potencial produtivo do híbrido seja explorado. No gráfico 1, estão os resultados dos vencedores do concurso de produtividade.
Como os produtores estão sempre na luta por produtividades maiores, a Associação Nacional dos Produtores de Milho dos EUA (NCGA) proporciona um ponto de referência para os rendimentos que são atingíveis quando as condições ambientais e de manejo são otimizados. Os rendimentos médios dos vencedores do concurso promovido pela NCGA são cerca de duas vezes os rendimentos médios dos EUA. Esta diferença pode ser atribuída às condições ambientais favoráveis, campos de competição altamente produtivos e às práticas de manejo de alto rendimento utilizadas pelos vencedores do concurso.
A NCGA atingiu marcos notáveis nos últimos anos. Os recordes de produtividade foram batidos em todos os anos: 472 sc/ha em 2013, 523 sc/ha em 2014 e 553 sc/ha em 2015. Veja quais são as principais práticas agronômicas dos produtores de milho inscritos no programa e que tiveram produtividades superiores a 312 sc/ha:
Híbridos testados, em comparação uns com os outros, em um único ambiente, podem apresentar variações de produtividade de até 30 sc/ha. Nos ambientes de altas produtividades essa diferença pode ser ainda maior, por isso, selecionar o híbrido certo é, provavelmente, a principal prática agronômica realizada pelos ganhadores do concurso.
Percebendo o potencial de rendimento de alguns híbridos, é preciso adequar estas características aos atributos do campo, tais como capacidade de fornecimento de água, espectro e intensidade de pragas e doenças, zona de maturidade e cobertura do solo. Para atingir maiores níveis de produtividade é preciso selecionar híbridos com as seguintes características:
Alto potencial genético
Maior ciclo adaptado para a região
Boa emergência em condições de estresse
Boa tolerância à seca
Resistência às doenças locais
Eventos transgênicos contra as principais pragas locais
Boa estabilidade para minimizar as perdas na colheita
Na tabela 1, podemos ver os vencedores do último concurso promovido pela NCGA, com produtividades incríveis alcançadas com híbridos marca Pioneer® nos EUA.
O melhoramento genético de híbridos de milho para tolerância ao estresse tem contribuído para o aumento da produtividade por permitir o aumento da população de plantas. Conforme mostra o gráfico 2, em geral, as maiores produtividades são expressas nas maiores populações de planta. As produtividades que excederam os 312 sc/ha no concurso da NCGA tiveram uma população final de plantas que variou entre 60.000 e 135.000 plantas/ha, sendo que o melhor resultado foi obtido na maior população.
A grande maioria dos hectares de milho nos Estados Unidos estão plantados com espaçamento entre linhas de 76 cm. De todas as inscrições no concurso, 77% utilizaram o mesmo espaçamento entre linhas (76 cm). Porém, tem se observado nos EUA, uma tendência a aumentar o plantio de milho com espaçamentos menores, principalmente quando há aumentos expressivos de população de plantas.
no contexto de altas produtividades, os melhores resultados obtidos no concurso, geralmente são plantados tão logo seja viável para a sua região. Com o plantio realizado mais cedo, os efeitos do calor e estresse por umidade podem ser reduzidos. Porém, se a temperatura do solo estiver muito baixa, podem surgir problemas de germinação e irregularidade de espigamento. Plantios que resultaram em produtividades acima de 300 sc/ha iniciaram entre 10 de março e 30 de maio (figura 1).
A rotação de cultura é uma das práticas mais recomendadas para manter as produtividades consistentemente elevadas. A rotação pode quebrar o ciclo de desenvolvimento de pragas e doenças. Além disso, incluindo culturas como soja e alfafa na rotação, é possível diminuir a quantidade de aplicação de Nitrogênio, em comparação à sucessão de milho sobre milho. No concurso da NCGA, a grande maioria das áreas (66%) foi plantada em rotação com outras culturas.
O chamado “efeito da rotação” apresenta um incremento de produtividade mesmo quando comparado com o cultivo de milho sobre milho em que todos os fatores limitantes foram controlados. Esse incremento de produtividade gira em torno de 5 a 15% em estudos de pesquisa, mas tem sido menor em lavouras de alta produtividade. Milho rotacionado com outras culturas possui, geralmente, maior capacidade de tolerar fatores de estresse que limitam a produtividade quando comparados a cultivos contínuos de milho sobre milho.
Três das seis classes no Concurso Nacional do Milho especificaram o plantio direto e o preparo do solo antes do inverno; no entanto, mais de 60% das áreas que tiveram produtividades superiores a 312 sc/ha mostraram fazer o plantio convencional ou mínimo. Muitas das áreas apresentadas fizeram algum tipo de descompactação profunda. Quando os campos estão adequadamente secos, a descompactação profunda pode romper com camadas compactadas, facilitando o desenvolvimento de raízes do milho.
Alcançar altas produtividades de milho requer um excelente programa de fertilidade, começando com o momento adequado de aplicação de nitrogênio (N) e análises do solo para determinar os níveis de Fósforo (P), Potássio (K) e pH.
Nas condições americanas, o milho exige aproximadamente 1 kg de Nitrogênio (N) para cada saca colhida. Já a produção de matéria seca exige metade. Isso significa que para uma expectativa de produção de 300 sc/ha, o fornecimento de nitrogênio deve ser entre 279 e 390 kg/ha. Apenas uma porção dessa quantidade tem que ser é fornecida por N fertilizante. O nitrogênio também é fornecido pela mineralização da matéria orgânica dos solos. As taxas de aplicação de N nas lavouras que tiveram produtividades acima de 300 sc/ha no concurso de produtividade do milho podem ser vistas no gráfico 3.
Dos produtores que tiveram as produtividades acima de 300 sc/ha, a taxa de aplicação de N mais utilizada foi entre 280 e 335 kg/ha, sendo que alguns deles complementaram a aplicação usando esterco.
O momento da aplicação de N pode ser tão importante quanto a taxa de aplicação. Quanto menor o tempo entre a aplicação de N e a absorção pela cultura, menores serão as taxas de perdas. A máxima absorção de N se dá durante a fase de crescimento acelerado de desenvolvimento vegetativo, entre V12 e VT (pendoamento). Entretanto o requerimento de N é considerado alto de V6 até R5.
Vejamos no gráfico 4 o momento de aplicação de N dos produtores que obtiveram as produtividades maiores de 300 sc/ha. Apenas alguns produtores ainda fazem a aplicação no outono, enquanto muitos fazem a aplicação antes do plantio. Mais de 80% fazem aplicações durante o desenvolvimento da cultura.
Assumindo que os solos sejam mantidos em níveis adequados, os produtores devem adicionar, pelo menos o nível de P e K que será extraído pela cultura. Além disso, esses nutrientes devem estar disponíveis nas zonas de absorção dos nutrientes. O milho em grão extrai cerca de 0,50 kg de P2O5 e 0,30 kg de K2O por saca produzida. Isso significa que para uma produtividade de 300 sc/ha haverá a extração aproximada de 144 kg de P2O5 e 100 kg de K2O por hectare.
Micronutrientes foram aplicados em quase metade das lavouras que tiveram resultados de produtividade superiores a 300 sc/ha. Os mais comuns foram: Enxofre (S) e Zinco (Zn), com algumas aplicações de Boro (B), Magnésio (Mg) e Manganês (Mn). Em geral, os micronutrientes são encontrados em quantidades suficientes na maior parte dos solos americanos. Entretanto, solos arenosos com baixo teor de matéria orgânica apresentam alguma deficiência desses micronutrientes, enquanto que solos com alto pH podem fazer com que fiquem indisponíveis.
O Enxofre (S) é extraído depois do Nitrogênio, Fósforo e Potássio em termos de importância para a produtividade da cultura. A mineralização da matéria orgânica é a fonte primária de fornecimento desse nutriente, uma vez que está presente em grandes quantidades na matéria orgânica. A fertilização com Enxofre, historicamente não tem sido um grande problema nos solos, entretanto, tem se percebido que com o incremento contínuo de produtividade, algumas deficiências estão começando a aparecer.
A maioria dos produtores com produtividades superiores a 300 sc/ha usaram tecnologias de resistência à pragas. Quase todos esses produtores usaram tecnologias acima do solo (foliares) e quase metade deles usaram tecnologias para controle de pragas abaixo do solo (proteção das raízes).
Manter o milho livre do estresse de doenças foliares, do colmo e da raiz é um fator muito importante para obtenção de altas produtividades. Doenças como Cercospora, Turcicum, Ferrugem Polissora e Ferrugem Comum podem rapidamente destruir a área fotossintética da planta diminuindo o seu potencial produtivo. Além disso, a redução da área fotossintética pode causar a diminuição de carboidratos no colmo, resultando em maior risco de podridões que podem levar a planta ao tombamento. Vários produtores do Concurso aplicaram mais de um tratamento com fungicida, frequentemente utilizando diferentes modos de ação.
Em 2016 a Pioneer® apresentou um estudo com o resultado de 1.241 ensaios conduzidos entre 2007 e 2015. Os resultados positivos para aplicação de fungicida ocorreram em 82% do tempo, com uma resposta média de quase 8 sc/ha para aplicações entre VT e R2 (Jeschke, 2016). Fungicidas foliares tendiam a fornecer um benefício maior para híbridos com menor resistência a doenças e quando as condições eram favoráveis para o desenvolvimento das mesmas.
Nas últimas 3 safras, todas as áreas com produtividades acima de 300 sc/ha eram com o Gene Roundup Ready®. Entretanto, em grande parte dessas áreas houve um bom programa de manejo incluindo herbicidas pré e pós emergentes. Um excelente controle de plantas daninhas é muito importante para obter altas produtividades em milho. Estudos mostram que o período crítico da competição das plantas daninhas com o milho começa a partir de V2 a V3 e vai até V12.
Com o passar dos anos ficou ainda mais evidente que apenas copiar uma tecnologia de um lugar para outro pode ser perigoso. No entanto, os EUA é uma grande fonte de conhecimento para aumento de produtividade. Neste artigo pudemos ter uma ideia de algumas práticas comuns dos produtores que venceram concursos de produtividade nos EUA e, com isso, queremos instigar os produtores brasileiros a buscar melhorias nos processos na sua propriedade para que continuem buscando cada vez mais o aumento da produtividade.
Caso ainda existam dúvidas ou questionamentos sobre como os produtores nos Estados Unidos alcançam resultados como estes, temos um espaço aberto para perguntas. Com certeza traremos a resposta da forma mais rápida e adequada possível.
Sugestões de assuntos que você queira ler no blog também são bem-vindos! Deixe sua sugestão nos comentários, logo abaixo!
Escrito por: Mark Jeschke¹
Tradução, introdução e resumo de Fabricio Bona Passini²
¹Ph.D., Pioneer® Agronomy Information Manager
²Gerente de Agronomia na Pioneer®
Butzen, S. 2010. Micronutrients for Crop Production. Crop Insights Vol. 20. No. 9. Pioneer®. Johnston, IA. Online: https://www.pioneer.com/home/site/us/agronomy/micronutrients-crop-production/
Butzen, S. 2012. Best Management Practices for Corn-After-Corn Production. Crop Insights Vol. 22. No. 6. Pioneer®. Johnston, IA. Online: https://www.pioneer.com/home/site/us/agronomy/library/template.CONTENT/guid.BE7307F5-66CB-A8D6-A309-B191F8DF435E
Jeschke, M. 2013. Row Width in Corn Grain Production. Crop Insights Vol. 23. No. 16. Pioneer®. Johnston, IA. Online: https://www.pioneer.com/home/site/us/agronomy/library/template.CONTENT/guid.43249A5ED41C-64A0-6C34-F3A3DDAB768C
Jeschke, M. 2016. Maximizing the Value of Foliar Fungicides in Corn. Crop Insights Vol. 25 No. 5. Pioneer®. Johnston, IA. Online: https://www.pioneer.com/home/site/us/agronomy/max-value-foliar-fungicides-corn/
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