Um dos grandes desafios do cultivo da soja que pode ser controlado de forma equilibrada, sem que hajam danos econômicos, é o manejo de pragas, principalmente as lepidopteras, que ganham destaque mesmo em anos com alta participação de cultivares Bt (https://cib.org.br/isaaa-2018/).
As tecnologias Bt protegem as culturas de soja, milho e algodão de pragas lepidopteras e é uma ferramenta de manejo que, se não for conduzida de forma correta, não entregará a performance esperada, e ficará exposta à quebra de resistência para seus alvos.
O manejo das principais lagartas que acometem a cultura da soja é bastante complexo, uma vez que, várias espécies são polífagas, ou seja, possuem ciclo vital em diferentes culturas, assim se estendendo para outros cultivos além da soja, como milho e algodão, que possuem uma participação significativa dentro do sistema de produção brasileiro e também possuem tecnologias Bt dentro do portfólio de híbridos e variedades disponíveis no mercado.
Dentro do complexo de lepidopteras do sistema de produção brasileiro, podemos destacar as seguintes espécies: Elasmopalpus lignosellus (lagarta-elasmo), Spodoptera frugiperda (lagarta-militar), Helicoverpa armigera (lagarta helicoverpa) e Chrysodeixis includens (lagarta-falsa-medideira).
Neste post abordaremos brevemente o comportamento atual destas pragas e algumas sugestões de manejo. Acompanhe!
Foto: Josemar Foresti
As características climáticas da safra 17/18, implicaram em um atraso significativo para a cultura da soja devido a falta de chuva, porém, mesmo assim, alguns plantios foram acontecendo lentamente na esperança da regularização do clima.
Esta situação foi muito favorável ao surgimento da lagarta-elasmo, e essa praga que é mais voraz em anos de clima seco, acabou estendendo sua aparição para várias texturas de solo, não ficando restrita aos arenosos.
O impacto desta situação afetou diretamente o estande inicial de várias lavouras, levando, em alguns casos, até mesmo a necessidade de replantio, o que elevou o custo de produção e atraso no sistema, principalmente, na sucessão de soja com milho na safrinha.
Controle da lagarta-elasmo
Como não temos controle sobre o clima, a melhor forma de prevenção é optar por cultivares com tecnologias que conferem certa supressão a esta praga, aliadas a um bom Tratamento de Sementes Industrial (TSI), com o objetivo de obter a manutenção na fase incial da cultura e uma boa instalação da lavoura.
Entre as opções de produto para TSI, a marca Pioneer® oferece DuPont™ Dermacor® , que entrega uma segurança significativa, tanto para as cultivares Bt como para as convencionais.
Além do TSI e das tecnologias Bt, é importante combinar estas ferramentas com uma boa palhada sobre o solo (retenção de umidade), o que fortalecerá ainda mais a segurança das plântulas, até seu estabelecimento completo.
Foto: Josemar Foresti
Com certeza a lagarta-militar está entre as principais pragas dentro do sistema de produção brasileiro, devido ao controle parcial que algumas proteínas existentes no mercado oferecem.
Das três espécies de Spodoptera que aparecem com maior frequência (S. frugiperda, S. eridania e S. cosmioides), daremos destaque para S. frugiperda, que está sendo chamada, em algumas regiões, de “a nova lagarta-rosca”, devido ao seu atual hábito alimentar (observado em várias regiões, em lavouras de soja, milho e algodão) que impacta diretamente a fase inicial das culturas, podendo reduzir significativamente o estande de plantas.
Dano direto de Spodoptera frugiperda em lavoura de soja em fase inicial. Foto: Sandro Quinebre
Além do seu novo hábito alimentar, a Spodoptera frugiperda, também se alimenta de tecidos foliares e estruturas reprodutivas. E quando se alimenta dessas estruturas, a lagarta-militar causa um dano direto e irreversível à cultura da soja.
Controle da lagarta-militar
Por se tratar de um inseto polífago, a Spodoptera frugiperda possui dieta disponível praticamente o ano inteiro, e junto com o clima favorável, sua perpetuação é muito rápida, podendo ocorrer 12 gerações durante um ano, o que exige uma atenção especial nas transições entre os cultivos.
Como exemplo de cultivos que precisam de cuidados para a lagarta-militar está a sucessão soja-milho, onde o manejo deve iniciar no pré-plantio da soja, com monitoramento da palhada e, se necessário, realizar ® ®
controle químico (Lannate BR/Methomyl) + Tratamento de Sementes Industrial (TSI) com Dermacor para manutenção de estande.
Durante a condução da lavoura, devemos nos atentar aos níveis de infestação durante as fases vegetativa e reprodutiva. Segundo a EMBRAPA, deve-se considerar os seguintes niveis de controle:
Fase Vegetativa: 10 lagartas pequenas/metro ou 30% de desfolha;
Fase Reprodutiva: 10 lagartas pequenas/metro ou 15% de desfolha.
Na fase de implantação da segunda safra com milho, o manejo também deve ser adotado no pré-plantio porque podem ocorrer escapes de lagartas da cultura antecedente e, geralmente, são lagartas de ínstares mais avançados, o que exige pulverizações complementares mesmo com o uso de TSI.
Foto: André Shimohiro
Apesar de não ter chamado tanta atenção na última safra (quando comparada a safras anteriores), o complexo de lagartas helicoverpa não pode ser ignorado, principalmente se tratando da Helicoverpa armigera, lagarta de alta adaptabilidade (cria rápida resistência a produtos químicos) e de difícil controle, o que exige certos cuidados para que haja equilíbrio, sem danos econômicos.
Em seu ano de aparição agressiva (2013), os prejuízos estimados somaram em torno de US$ 2 bilhões, considerando lavouras de soja e algodão, o que levou a planos emergenciais para a liberação de alguns produtos que antes não eram considerados para utilização.
Vale ressaltar que mesmo havendo tecnologias Bt supressivas para o controle desta praga, a dinâmica do sistema de produção (em grande parte soja, milho e algodão) é muito favorável a escapes. Desta forma, outras ferramentas de manejo devem ser adotadas junto com a tecnologia Bt escolhida.
Controle da lagarta Helicoverpa armigera
Como mencionado em outros complexos de lagartas, o controle químico é fundamental quando o nível de dano econômico é atingido. Além disso, é importante lembrar que quanto menores os tamanhos das lagartas, melhor a eficiência de controle pelos produtos.
Para uma percepção mais precisa de infestações iniciais, a atenção com as populações adultas (mariposas) é também uma grande aliada ao manejo, uma vez que poderá ser realizado com a instalação de armadilhas com feromônios.
A Helicoverpa armigera, possui 6 estádios larvais, e o melhor momento para realização de aplicações com inseticida para o controle desta praga são os primeiros ínstares (até 7mm), porém, é preciso também levar em consideração os níveis corretos de ação, que segundo a EMBRAPA, é infestação máxima de:
4 lagartas pequenas/metro, ou 30% de desfolha na fase vegetativa;
2 lagartas pequenas/metro, ou 15% de desfolha na fase reprodutiva.
Para controle de Helicoverpa armigera na cultura da soja, a Corteva Agriscience™ oferece aos produtores dois grandes aliados de alta performance para manejo desta praga: Exalt® e Intrepid Edge®.
Foto: André Shimohiro
Não diferente das outras lagartas citadas, a lagarta-falsa-medideira também é um inseto polífago com capacidade de se desenvolver em 73 plantas hospedeiras no Brasil, pertencentes a 29 famílias, entretanto, sua preferência é a cultura da soja.
Mesmo existindo eventos Bt que ofereçam tolerância a esta praga, ainda há cultivares sem a presença de proteínas que a controlam, levando o produtor a realizar um manejo intensificado, devido a complexidade da praga.
A lagarta-falsa-medideira, geralmente, se alimenta de folhas localizadas no terço médio e baixeiro da soja, na face abaxial das folhas, e é aí que mora a complexidade no controle, porque geralmente seus picos populacionais (estouro populacional) estão intimamente ligados a fase em que a cultura se encontra no momento de fechamento do dossel, o que torna esta praga um alvo de díficil controle.
Em função disso, a lagarta-falsa-medideira exige maior atenção na qualidade das pulverizações de controle, uma vez que, falhas podem trazer prejuízos significativos, pois seus hábitos alimentares são muito agressivos e com danos diretos aos tecidos foliares, o que reduz significativamente a área fotossintética das plantas.
Controle da lagarta-falsa-medideira
Como recomendação para o manejo desta praga, o monitoramento periódico das lavouras é imprescindível, sempre observando a presença de adultos (mariposas) e oviposições, com o objetivo de controle da lagarta em ínstares iniciais (lagartas neonatas) devido a maior facilidade no controle da praga.
No primeiro e segundo ínstares, as lagartas raspam as folhas mais novas, por isso, são um alvo mais fácil de ser atingido, enquanto que as lagartas mais desenvolvidas são menos exigentes e alimentam-se de folhas mais velhas e localizadas no terço inferior das plantas. Os níveis de ação considerados, segundo a Fundação MS, são:
20 lagartas maiores do que 1,5 cm, ou 30% de defolha na fase vegetativa;
15% de desfolha na fase reprodutiva.
Para controle desta lagarta, além da tecnologia Bt, Intacta® RR2 PRO, contida nas sementes de soja marca Pioneer® , os produtos Exalt® e Intrepid Edge® também são recomendados pela Corteva Agriscience™ para o controle da lagarta-falsa-medideira.
Controle do complexo de lepidopteras na soja
De maneira geral, para o controle de lepidopteros na cultura da soja, considere:
Fazer monitoramento periodicamente;
Ao atingir o nível de dano, realizar aplicações com produtos registrados e na dosagem recomendada; Rotacionar o modo de ação de inseticidas;
Considerar as melhores condições para obter efetividade no acerto do alvo desejado; Na utilização de produtos com tecnologias Bt, sempre considerar a adoção das boas práticas de manejo para a manutenção da longevidade do Trait;
Como boa parte das pragas são polífagas, a complexidade aumenta e as estratégias de controle podem ser consideradas para todo o sistema de produção.
Em resumo, a melhor maneira de condução da lavoura não se limita a apenas uma prática, como a adoção tecnológica ou manejos isolados, mais sim a combinação de todas as ferramentas disponibilizadas dentro do sistemas de produção (Traits, TSI, MIP, MRI, produtos, etc).
Sandro Quinebre
Agrônomo de Campo na Corteva Agriscience™, divisão agrícola da DowDuPont
CIASEEDS. Manejo de insetos na soja Intacta RR2 PRO (http://www.ciaseeds.com.br/blog/manejo-de-insetos-na-soja-intacta rr2-pro/). Acesso em 19/10/2018.
DEGRANDE, Paulo Eduardo; VIVAN, Lucia Madalena. Pragas comuns do sistema de produção soja/milho/algodão. Fundação MT Boletim de Pesquisa 2017/2018, Rondonópolis/MT, n. 18, p. 183-208, 2018.
EMBRAPA. Artropodes que atavam as folhas da soja (http://www.cnpso.embrapa.br/artropodes/Capitulo4.pdf). Acesso em 19/10/2018.
EMBRAPA. Helicoverpa armigera: ações de prevenção e manejo (http://www.cnpso.embrapa.br/helicoverpa/soja.htm). Acesso em 19/10/2018.
GRUPO CULTIVAR. Manejo de Helicoverpa armigera no tomateiro (https://www.grupocultivar.com.br/artigos/potencial devastador). Acesso em 19/10/2018.
GRIGOLLI, José Fernando Jurca. Pragas da soja e seu controle
(http://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/239/239/newarchive-239.pdf). 07. 2016. Acesso em 22/10/2018.