19/09/2016

Período Suscetível do Milho ao Ataque do Percevejo-Barriga-Verde e o Efeito do Tratamento de Semente

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Percevejo-barriga-verde na lavoura

Introdução

A cultura do milho, durante o seu desenvolvimento, está sujeita ao ataque de pragas e doenças, necessitando de um manejo apropriado para garantir uma adequada produtividade.

Em relação aos artrópodes-praga que infestam a cultura, várias espécies merecem destaque, incluindo a lagarta elasmo, Elasmopalpus lignosellus Zeller (Lepidoptera: Pyralidae), a larva alfinete, Diabrotica speciosa (Germar) (Coleoptera: Chrysomelidae), a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), a lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea Boddie (Lepidoptera: Noctuidae) e a broca-da-cana, Diatraea saccharalis Fabricius (Lepidoptera: Crambidae).

Entre os percevejos, os de maior importância econômica na fase inicial do estabelecimento da cultura são Dichelops furcatus Fabricius e Dichelops melacanthus Dallas (Hemiptera: Pentatomidae). O primeiro registro da ocorrência de “percevejo-barriga-verde” atacando plântulas foi em 1993, em Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul, ocasião em que foram encontrados, em média, 6 percevejos adultos de D. melacanthus a cada 10 metros de fileira de milho, e cerca de 56% das plântulas com sinais de ataque (Ávila & Panizzi, 1995).

O "percevejo-barriga-verde" tem ganhado destaque como praga inicial do milho, principalmente em função das mudanças no sistema produtivo da cultura, como o uso do sistema de plantio direto na palha e o plantio da safrinha. Inicialmente, as duas espécies de percevejo eram mais frequentes na região Sul do Brasil, porém, tem se tornado cada vez mais frequente a constatação dessas espécies nas principais regiões produtoras de milho do Brasil.

Os danos causados por percevejos são provocados pela alimentação próxima ao colo das plântulas, originando injúrias típicas e, à medida que as folhas se desenvolvem, as lesões aumentam, as plantas ficam deformadas, amareladas e com o desenvolvimento comprometido (Ávila & Panizzi,1995). Dependendo da severidade do ataque, pode ocorrer a morte de plântulas, com a consequente redução do estande da lavoura. Portanto, devido à importância dessa praga na cultura do milho, foi realizado um experimento pela Pioneer® com o objetivo de definir o período suscetível da cultura do milho ao ataque do D. melacanthus e o benefício do tratamento de semente no controle do mesmo.

Material e Métodos

O experimento foi realizado nas instalações da Pesquisa Milho da Pioneer® no município de Toledo-PR em outubro de 2015. O experimento foi conduzido em condições de campo em parcelas de 1,2 x 1,2 m totalizando uma área por unidade experimental de 1,44 m². Em cada parcela foram plantadas 9 sementes equidistantes de 0,4 x 0,4 m, totalizando uma população de 62.500 plantas por hectare.

No tratamento controle, a semente foi tratada apenas com o fungicida Carbendazim + Thiram (150 g.L-1 + 350 g.L-1) na dose de 3,0 mL.kg-1. No tratamento com o inseticida, a semente foi tratada com Clothianidin (600 g.L-1) na dose de 3,5 mL.kg-1 + Carbendazim + Thiram (150 g.L-1 + 350 g.L-1) na dose de 3,0 mL.kg-1. Para reduzir a incidência de outras pragas como a lagarta-do-cartucho, foi usado o híbrido 30F53VYH.

Foram realizadas 3 datas de plantios distintas com intervalo de 7 dias. Cada parcela foi protegida com uma gaiola medindo 1,2 x 1,2 x 2,5 m (Comprimento x Largura x Altura), com tecido tipo filó contendo um zíper em formato de “L” invertido para facilitar a infestação e avaliação do experimento (Figura 1A).

Quando as plantas estavam nos estádios de V2, V4 e V6 foi realizada a infestação com 2 insetos adultos D. melacanthus (Figura 1B) por planta, coletados em palhada de trigo. Antes da infestação, os insetos foram mantidos em gaiolas idênticas as usadas no experimento, porém, com plântulas de milho no estádio de V2, onde permaneceram por 7 dias.

Cerca de madeira em gramado

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Uma imagem contendo atletismo, beisebol, pequeno, cadeira

Descrição gerada automaticamente

Figura 1: Parcela protegida com gaiola de 1,2 x 1,2 x 2,5 m com tecido tipo filó contendo um zíper em formato de “L” invertido para facilitar a infestação e avaliação do experimento (A), e adulto de D. furcathus e D. melacanthus (B).

A infestação dos três estádios (V2, V4 e V6) foi realizada no mesmo dia e os insetos permaneceram em contato com as plantas por 7, 14 e 21 dias (Tabela 1). Os parâmetros avaliados foram: aspecto visual, mortalidade (%), escore de dano, e rendimento (sc/ha). A avaliação de escore de dano foi realizada de acordo com a sua severidade, com escala de 1 a 9 (Figura 2). Mortalidade e escore de dano foram mensurados aos 35 dias após a infestação.

Tratamento

Híbrido

Descrição tratamento

Intervalo de infestação (dias de exposição)

Estádio de crescimento durante a infestação

1

30F53VYH

Clothianidin

7

V2 - V4

2

30F53VYH

Sem inseticida

7

V2 - V4

3

30F53VYH

Clothianidin

14

V2 - V6

4

30F53VYH

Sem inseticida

14

V2 - V6

5

30F53VYH

Clothianidin

21

V2 - V8

6

30F53VYH

Sem inseticida

21

V2 - V8

7

30F53VYH

Clothianidin

7

V4 - V6

8

30F53VYH

Sem inseticida

7

V4 - V6

9

30F53VYH

Clothianidin

14

V4 - V8

10

30F53VYH

Sem inseticida

14

V4 - V8

11

30F53VYH

Clothianidin

7

V6 - V8

12

30F53VYH

Sem inseticida

7

V6 - V8

Tabela 1: Intervalo de infestação (dias de exposição das plantas em contato com a praga) e estádio de crescimento das plantas no momento da infestação com os percevejos.

Planta com folhas verdes

Descrição gerada automaticamente

Figura 2: Sintomas de dano de D. melacantus em milho híbrido. As imagens das plantas correspondem aos escores de 1 a 3 (A), 4 a 6 (B) e 7 a 9 (C).

Resultados

 

Diagrama

Descrição gerada automaticamente

Figura 3: Aspecto visual das plantas 35 dias após a infestação com percevejo. Infestação de V2 – V4 (A), infestação de V2 – V6 (B), infestação de V2 – V8, (C), infestação de V4 – V6 (D), infestação de V4 – V8 (E) e infestação de V2 – V6 (F).

Gráfico, Gráfico de barras

Descrição gerada automaticamente

Figura 4: Mortalidade acumulada 35 dias após a infestação com percevejo.

Gráfico, Gráfico de barras

Descrição gerada automaticamente

Figura 5: Escala de dano 35 dias após a infestação com percevejo.

Gráfico, Gráfico de barras

Descrição gerada automaticamente 

Figura 6: Rendimento em sacas por hectare nos diferentes intervalos de infestação.

 

Considerações Finais

O tratamento de semente com o ingrediente ativo Clothianidin mostrou-se eficiente no controle do D. melacanthus, principalmente nos primeiros 12 dias após a emergência (Figura 3). O maior percentual de mortalidade ocorreu nos primeiros 10 dias após a infestação com a praga, embora tenha ocorrido mortalidade até o estádio de V6 (Figura 4). Os primeiros 10 dias após a emergência é o período de maior suscetibilidade do milho ao ataque ao percevejo, embora a praga tenha conseguido fazer dano com menor intensidade até os 24 dias após a emergência (Figura 5). A infestação com o D. melacanthus no estádio de V6 em diante, não resultou em potencial de perda significativa na produtividade (Figura 6).

Considerando os tratamentos com inseticida, nos quais os insetos foram mantidos por 7 dias em contato com as plantas (V6 - V8), em relação ao tratamento de maior exposição 21 dias (V2 - V8), o potencial de perda foi aproximadamente 4 vezes maior no período de maior exposição. Os dados demostram que quanto maior o tempo de exposição da praga no estádio suscetível da cultura do milho, maior será o dano.

O tratamento de semente deve ser usado como uma ferramenta auxiliar após o controle preventivo e deve-se conhecer o risco potencial da área antes da implantação da cultura. Portanto, fica evidente o grande potencial de dano dessa praga na fase inicial do estabelecimento da cultura, e que os maiores benefícios estão nas práticas de controle realizadas antes da implementação da cultura, uma vez que o dano maior é provocado pela fase adulta do percevejo, que migra de campos adjacentes ou da cultura anterior.

Dúvidas sobre o período suscetível do milho ao ataque do percevejo-barriga-verde e sobre o efeito do TSI para controle? Deixe sua pergunta e/ou seu comentário no espaço abaixo. Além disso, convidamos você a compartilhar este material nas suas redes sociais para que mais pessoas ligadas ao agronegócio possam ter acesso a este conteúdo.

Sobre o autor

Josemar Foresti¹ e Paulo Roberto da Silva²

¹ Cientista Pesquisador na Pioneer®
² Pesquisador Associado na Pioneer®

Referências

Ávila, C.J. & Panizzi, A.R. Occurrence and damage by Dichelops (Neodichelops) melacanthus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) on corn. An. Soc. Entomol. Brasil. (24) 193 – 194. 1995.