A colheita da lavoura de milho para silagem de planta inteira, realizada na maturidade adequada (32 a 38% de matéria seca), assegura o fornecimento de açúcares fermentáveis para as bactérias envolvidas no processo fermentativo, garantindo maior valor nutricional e umidade ideal para a compactação. Dessa forma, maximiza-se o valor do alimento que será fornecido aos animais no cocho.
Cuidados na colheita para um processamento eficiente das partículas e dos grãos promovem maior consumo e aproveitamento da silagem, melhorando a saúde animal. Isso evita distúrbios fisiológicos, reduz perdas por sobras no cocho devido a partículas desuniformes e minimiza a perda de energia causada pela presença de grãos inteiros, que possuem em média 70% de amido.
O primeiro aspecto a ser observado na colheita é a altura de corte. Plantas cortadas abaixo de 25 centímetros podem contaminar a silagem com solo, esterco e detritos presentes na área, favorecendo o crescimento de fungos, coliformes e bactérias indesejáveis, como Clostridium, comprometendo a fermentação e aumentando os níveis de micotoxinas e perdas de matéria seca.
Após o corte, as plantas passam pelo cilindro de corte, composto por facas e contrafacas. A distância entre elas deve ser mantida entre 0,2 e 0,5 mm, aproximadamente a largura de uma folha de papel sulfite A4. As facas devem ser afiadas de duas a três vezes ao dia, e o estado das contrafacas deve ser inspecionado regularmente, verificando desgaste, substituindo-as quando necessário para garantir uniformidade das partículas.
O tamanho tradicional das partículas varia de 10 a 20 mm, podendo ser ajustado entre 6 e 28 mm conforme a necessidade, o estágio de matéria seca e a regulagem da ensiladora. Quando a máquina não possui processador de grãos, o tamanho das partículas deve ser reduzido para que as facas auxiliem na quebra dos grãos.
Máquinas equipadas com cilindros processadores de grãos (cracker) são fundamentais para romper o tegumento do grão, expondo o amido para fermentação junto à massa. A regulagem da distância entre os rolos do cracker deve ser de 1 a 2 mm (equivalente à espessura de uma moeda de 5 centavos) para garantir uma quebra superior a 95%, sem comprometer a integridade da fibra. Os rolos do cracker devem ser inspecionados a cada 400 a 600 horas de uso.
O tamanho das partículas e o processamento dos grãos são fatores críticos para a qualidade da silagem, pois afetam diretamente a eficiência da digestão e o desempenho animal. Quando os grãos não são processados corretamente, parte do amido pode passar pelo trato digestivo sem ser aproveitada, reduzindo o valor nutricional da silagem. O processamento adequado, especialmente em grãos de milho, melhora a acessibilidade do amido para os microrganismos ruminais, aumentando a conversão alimentar e otimizando a produção de leite e carne. Por outro lado, um processamento excessivo pode gerar partículas muito finas, acelerando a taxa de fermentação e aumentando o risco de acidose ruminal.
Além disso, o tamanho das partículas da forragem impacta diretamente a ruminação e a saúde do rúmen. Partículas muito curtas reduzem a necessidade de mastigação, diminuindo a produção de saliva e comprometendo o tamponamento do pH ruminal. Isso pode levar a problemas metabólicos e menor eficiência alimentar. Por outro lado, partículas muito longas dificultam a compactação da silagem, prejudicando a fermentação e favorecendo perdas por deterioração. O equilíbrio entre tamanho de partícula e processamento dos grãos é essencial para garantir a estabilidade da silagem, a saúde do rebanho e a máxima conversão dos nutrientes em produtividade.
Uma ferramenta fundamental para checar a distribuição e uniformidade das partículas da silagem é o conjunto de peneiras Penn State. O conjunto consiste em quatro peneiras sobrepostas, com furos de 19 mm, 8 mm, 4 mm e um fundo liso (imagem 1).
Durante a colheita, coleta-se uma amostra de 0,5 a 1 kg da silagem na carreta ou caminhão. A amostra é colocada sobre as peneiras, realizando-se 20 movimentos de vai e vem e uma repetição (totalizando 40 movimentos).
Depois, é necessário fazer a pesagem das partículas retidas em cada peneira e fazer o percentual de cada pesagem em relação ao peso final.
A distribuição ideal das partículas deve ser:
Com esses dados em mãos, é possível analisar a qualidade da silagem e realizar os ajustes necessários.
Em um cenário hipotético, realizou-se a separação de 500 gramas de silagem como amostra. Com o uso da peneira Penn State, é feita a avaliação da distribuição do tamanho das partículas.
Ao peneirar a amostra fictícia, os materiais ficaram distribuídos da seguinte forma:
Importante considerar que a fração retida na peneira de 19 mm é essencial para estimular a ruminação, pois ficam sobrenadando no líquido ruminal e promovem a salivação, que, por sua vez, é rica em bicarbonato de cálcio, mantendo o pH ruminal estável. A manutenção do pH do rúmem elevado previne distúrbios como acidose, laminite, diarreias, perda de score corporal, quedas no teor de gordura do leite e até a torção de abomaso.
É fundamental que o tamanho da partícula não ultrapasse o da boca do animal, pois isso pode resultar em sobras no cocho, mesmo dentro da faixa percentual adequada na peneira. Se exceder 8%, haverá desperdício; se for inferior a 2 ou 3% e não houver outra fonte de fibra, o animal pode sofrer os distúrbios mencionados anteriormente.
Na peneira de 8 mm, encontram-se as partículas fisicamente efetivas, essenciais para a ruminação. A proporção ideal é de 45 a 65% das partículas da silagem. Quando 65 a 70% da silagem se distribui entre as peneiras de 19 e 8 mm, o aproveitamento é maximizado e a saúde dos animais favorecida.
Já nas peneiras subsequentes de 4 mm e no fundo, encontram-se as partículas menores e de rápida digestão, que devem representar, no máximo, de 30 a 40% do total quando somadas. Se esse percentual for ultrapassado e não houver outra fonte de fibra disponível na propriedade, os mesmos distúrbios mencionados anteriormente podem ocorrer.
Esse cálculo ajuda a avaliar se a silagem possui um tamanho de partícula equilibrado, garantindo boa digestibilidade do amido e estimulando a ruminação, sem comprometer a saúde do rúmen. Caso os resultados estejam fora do esperado, ajustes podem ser feitos na regulagem da colhedora ou na compactação do silo.
Em outro exemplo (imagem 2), avalia-se que há uma distribuição irregular no fundo. Neste caso, é necessário aumentar o Tamanho Médio de Partículas (TMP) na colheita para corrigir o problema.
Fundamental no momento da colheita, o monitoramento do processamento de grãos pode ser realizado de três formas principais:
Lembre-se: o processamento eficiente dos grãos é o fator mais importante para a qualidade da silagem de milho. O tamanho das partículas é secundário, pois a fibra pode ser suplementada na dieta, enquanto a perda de amido representa desperdício de energia. Bons produtores perdem no máximo 2 a 3% de amido fecal, sendo recomendável não ultrapassar 5%, conforme dados do 3rlab/Ribersolo. Segundo Ferguson (2009), cada 1% de amido perdido equivale a aproximadamente 300 g de leite em energia.
Obter uma silagem bem processada e rica em amido contribui para um alimento de alta qualidade, reduzindo a necessidade de suplementação com grãos e diminuindo os custos com alimentação. Portanto, monitorar o processamento dos grãos e ajustar corretamente as regulagens da ensiladora são práticas fundamentais para garantir a máxima eficiência na produção de leite e saúde do seu negócio.
Autor: Dimas Cardoso, agrônomo de campo Pioneer®.
Confira também o artigo sobre o impacto do momento de colheita da silagem de milho na rentabilidade da pecuária leiteira: clique AQUI para acessar o PDF.