24/02/2025

Silagem de milho: a importância do processamento de plantas e grãos na ensilagem

Foto: Banco de Imagens Pioneer® 
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Processamento de grãos na silagem

A colheita da lavoura de milho para silagem de planta inteira, realizada na maturidade adequada (32 a 38% de matéria seca), assegura o fornecimento de açúcares fermentáveis para as bactérias envolvidas no processo fermentativo, garantindo maior valor nutricional e umidade ideal para a compactação. Dessa forma, maximiza-se o valor do alimento que será fornecido aos animais no cocho.

Cuidados na colheita para um processamento eficiente das partículas e dos grãos promovem maior consumo e aproveitamento da silagem, melhorando a saúde animal. Isso evita distúrbios fisiológicos, reduz perdas por sobras no cocho devido a partículas desuniformes e minimiza a perda de energia causada pela presença de grãos inteiros, que possuem em média 70% de amido.

Altura de corte e qualidade da silagem

O primeiro aspecto a ser observado na colheita é a altura de corte. Plantas cortadas abaixo de 25 centímetros podem contaminar a silagem com solo, esterco e detritos presentes na área, favorecendo o crescimento de fungos, coliformes e bactérias indesejáveis, como Clostridium, comprometendo a fermentação e aumentando os níveis de micotoxinas e perdas de matéria seca.

Após o corte, as plantas passam pelo cilindro de corte, composto por facas e contrafacas. A distância entre elas deve ser mantida entre 0,2 e 0,5 mm, aproximadamente a largura de uma folha de papel sulfite A4. As facas devem ser afiadas de duas a três vezes ao dia, e o estado das contrafacas deve ser inspecionado regularmente, verificando desgaste, substituindo-as quando necessário para garantir uniformidade das partículas.

O tamanho tradicional das partículas varia de 10 a 20 mm, podendo ser ajustado entre 6 e 28 mm conforme a necessidade, o estágio de matéria seca e a regulagem da ensiladora. Quando a máquina não possui processador de grãos, o tamanho das partículas deve ser reduzido para que as facas auxiliem na quebra dos grãos.

Processamento de grãos e uso do cracker

Máquinas equipadas com cilindros processadores de grãos (cracker) são fundamentais para romper o tegumento do grão, expondo o amido para fermentação junto à massa. A regulagem da distância entre os rolos do cracker deve ser de 1 a 2 mm (equivalente à espessura de uma moeda de 5 centavos) para garantir uma quebra superior a 95%, sem comprometer a integridade da fibra. Os rolos do cracker devem ser inspecionados a cada 400 a 600 horas de uso.

Afinal, por que esse cuidado é importante?

O tamanho das partículas e o processamento dos grãos são fatores críticos para a qualidade da silagem, pois afetam diretamente a eficiência da digestão e o desempenho animal. Quando os grãos não são processados corretamente, parte do amido pode passar pelo trato digestivo sem ser aproveitada, reduzindo o valor nutricional da silagem. O processamento adequado, especialmente em grãos de milho, melhora a acessibilidade do amido para os microrganismos ruminais, aumentando a conversão alimentar e otimizando a produção de leite e carne. Por outro lado, um processamento excessivo pode gerar partículas muito finas, acelerando a taxa de fermentação e aumentando o risco de acidose ruminal.

Além disso, o tamanho das partículas da forragem impacta diretamente a ruminação e a saúde do rúmen. Partículas muito curtas reduzem a necessidade de mastigação, diminuindo a produção de saliva e comprometendo o tamponamento do pH ruminal. Isso pode levar a problemas metabólicos e menor eficiência alimentar. Por outro lado, partículas muito longas dificultam a compactação da silagem, prejudicando a fermentação e favorecendo perdas por deterioração. O equilíbrio entre tamanho de partícula e processamento dos grãos é essencial para garantir a estabilidade da silagem, a saúde do rebanho e a máxima conversão dos nutrientes em produtividade.

Como avaliar a uniformidade da silagem?

Uma ferramenta fundamental para checar a distribuição e uniformidade das partículas da silagem é o conjunto de peneiras Penn State. O conjunto consiste em quatro peneiras sobrepostas, com furos de 19 mm, 8 mm, 4 mm e um fundo liso (imagem 1). 

Imagem 1 – Peneiras são ferramenta para avaliar a uniformidade da silagem. Foto: Pioneer®.
Imagem 1 – Peneiras são ferramenta para avaliar a uniformidade da silagem. Foto: Pioneer®.

Durante a colheita, coleta-se uma amostra de 0,5 a 1 kg da silagem na carreta ou caminhão. A amostra é colocada sobre as peneiras, realizando-se 20 movimentos de vai e vem e uma repetição (totalizando 40 movimentos).

Depois, é necessário fazer a pesagem das partículas retidas em cada peneira e fazer o percentual de cada pesagem em relação ao peso final.

A distribuição ideal das partículas deve ser:

  • Peneira de 19 mm: 3 a 8% das partículas (para colhedoras normais) e 18 a 31% (para colhedoras shredlage);
  • Peneira de 8 mm: 45 a 65% das partículas;
  • Peneiras de 4 mm e fundo, somadas: 30 a 40% das partículas.

Com esses dados em mãos, é possível analisar a qualidade da silagem e realizar os ajustes necessários.

Simulação de verificação na Penn State

Em um cenário hipotético, realizou-se a separação de 500 gramas de silagem como amostra. Com o uso da peneira Penn State, é feita a avaliação da distribuição do tamanho das partículas.

Ao peneirar a amostra fictícia, os materiais ficaram distribuídos da seguinte forma:

Interpretação dos resultados:

  • 20% retidos na peneira superior (>19 mm): indica uma fração considerável de partículas longas, que ajudam na ruminação, mas um excesso pode dificultar a compactação da silagem.
  • 50% na peneira intermediária (8-19 mm): esta é a faixa ideal para garantir boa digestibilidade e ruminação equilibrada.
  • 24% na peneira inferior (1.18-8 mm): essas partículas menores contribuem para a densidade da silagem e digestão eficiente, mas em excesso podem reduzir a eficiência da ruminação.
  • 6% na bandeja (<1.18 mm): representa a quantidade de finos, que podem aumentar o risco de fermentação rápida e acidose ruminal se estiverem acima do ideal.

Importante considerar que a fração retida na peneira de 19 mm é essencial para estimular a ruminação, pois ficam sobrenadando no líquido ruminal e promovem a salivação, que, por sua vez, é rica em bicarbonato de cálcio, mantendo o pH ruminal estável. A manutenção do pH do rúmem elevado previne distúrbios como acidose, laminite, diarreias, perda de score corporal, quedas no teor de gordura do leite e até a torção de abomaso.

É fundamental que o tamanho da partícula não ultrapasse o da boca do animal, pois isso pode resultar em sobras no cocho, mesmo dentro da faixa percentual adequada na peneira. Se exceder 8%, haverá desperdício; se for inferior a 2 ou 3% e não houver outra fonte de fibra, o animal pode sofrer os distúrbios mencionados anteriormente.

Na peneira de 8 mm, encontram-se as partículas fisicamente efetivas, essenciais para a ruminação. A proporção ideal é de 45 a 65% das partículas da silagem. Quando 65 a 70% da silagem se distribui entre as peneiras de 19 e 8 mm, o aproveitamento é maximizado e a saúde dos animais favorecida.

Já nas peneiras subsequentes de 4 mm e no fundo, encontram-se as partículas menores e de rápida digestão, que devem representar, no máximo, de 30 a 40% do total quando somadas. Se esse percentual for ultrapassado e não houver outra fonte de fibra disponível na propriedade, os mesmos distúrbios mencionados anteriormente podem ocorrer.

Esse cálculo ajuda a avaliar se a silagem possui um tamanho de partícula equilibrado, garantindo boa digestibilidade do amido e estimulando a ruminação, sem comprometer a saúde do rúmen. Caso os resultados estejam fora do esperado, ajustes podem ser feitos na regulagem da colhedora ou na compactação do silo.

Em outro exemplo (imagem 2), avalia-se que há uma distribuição irregular no fundo. Neste caso, é necessário aumentar o Tamanho Médio de Partículas (TMP) na colheita para corrigir o problema.

Imagem 2 – Em análise, encontra-se problema no processamento de grãos e é possível fazer a correção necessária | Foto: Pioneer®.
Imagem 2 – Em análise, encontra-se problema no processamento de grãos e é possível fazer a correção necessária | Foto: Pioneer®.

Como monitorar o processamento de grãos?

Fundamental no momento da colheita, o monitoramento do processamento de grãos pode ser realizado de três formas principais:

  1. Flotação e secagem (imagem 3A): a amostra de silagem é seca em air fryer ou micro-ondas, seguida de flotação em uma bandeja com água. Os grãos são coletados e pesados para calcular o percentual de processamento, que deve ser superior a 95%.
  2. Flotação e peneira de 4,75 mm (imagem 3B): realize a flotação da amostra de silagem em uma bandeja com água, permitindo que os grãos se depositem no fundo. Em seguida, colete-os e seque-os na air fryer ou no micro-ondas até atingirem a matéria seca (MS). Pese a massa de grãos, registre o valor e passe-os por uma peneira de 4,75 mm. Depois, pese os grãos retidos e verifique se ao menos 50 a 70% passaram pela peneira. Para um aproveitamento máximo, o ideal é que esse percentual seja superior a 70%. Esse método simula, de maneira simplificada, a avaliação do processamento de grãos pelo Kernel Process Score (KPS) em laboratório.
  3. Método do copo de 1 litro (imagem 3C): desenvolvido pela Pioneer®, esse método consiste em separar uma amostra de silagem picada diretamente da carreta, colocando-a em um copo de aproximadamente 1 litro. O copo deve ser preenchido sem compactação e, em seguida, o material é espalhado sobre uma superfície para a contagem dos grãos inteiros ou parcialmente quebrados acima da metade (considerados inteiros, pois não há tempo suficiente para digestão no rúmen). Esse número não deve ultrapassar 2 grãos inteiros para automotrizes e 5 para máquinas sem processador de grãos. O valor já é expresso em percentual de grãos inteiros, considerando que o copo de 1 litro deve conter aproximadamente 100g de matéria seca dentro da janela ideal de colheita.
Imagem 3 - A. Flotação e secagem. B. Flotação e peneira de 4,75 mm. C. Método do copo de 1 litro | Foto: Pioneer®.
Imagem 3 - A. Flotação e secagem. B. Flotação e peneira de 4,75 mm. C. Método do copo de 1 litro | Foto: Pioneer®.

 

Considerações finais

Lembre-se: o processamento eficiente dos grãos é o fator mais importante para a qualidade da silagem de milho. O tamanho das partículas é secundário, pois a fibra pode ser suplementada na dieta, enquanto a perda de amido representa desperdício de energia. Bons produtores perdem no máximo 2 a 3% de amido fecal, sendo recomendável não ultrapassar 5%, conforme dados do 3rlab/Ribersolo. Segundo Ferguson (2009), cada 1% de amido perdido equivale a aproximadamente 300 g de leite em energia.

Obter uma silagem bem processada e rica em amido contribui para um alimento de alta qualidade, reduzindo a necessidade de suplementação com grãos e diminuindo os custos com alimentação. Portanto, monitorar o processamento dos grãos e ajustar corretamente as regulagens da ensiladora são práticas fundamentais para garantir a máxima eficiência na produção de leite e saúde do seu negócio.

Autor: Dimas Cardoso, agrônomo de campo Pioneer®.

Confira também o artigo sobre o impacto do momento de colheita da silagem de milho na rentabilidade da pecuária leiteira: clique AQUI para acessar o PDF.