Frente à necessidade de alimentar uma população mundial cada vez maior, é preciso intensificar os cultivos e a qualificação no setor produtivo para consequentemente aumentar a produtividade no País, que tem períodos cada vez menores de ausência de lavouras nas propriedades, especialmente nas regiões com o uso de irrigação. Diante disso, nos últimos anos, os produtores brasileiros têm convivido com o aparecimento de pragas e doenças com alto potencial de danos econômicos. A preocupação nasce do fato de que, nos países com clima tropical, há maior incidência de pragas e doenças nas lavouras do que nos países temperados e frios, o que exige maior rigor na adoção de técnicas, manejos e uso de tecnologias de acordo com as recomendações da Pesquisa.
Visando mitigar os danos causados por essas moléstias e facilitar seu controle, são utilizados diferentes métodos, tendo destaque o vazio sanitário, já instaurado para alguns cultivos. Dentro da visão de uma agricultura sustentável, o manejo integrado de doença e pragas, manejo integrado de resistência de insetos e plantas daninhas é a alternativa que devemos lançar mão em vista da sua eficiência e retorno social, ambiental e econômico.
O vazio sanitário é um período de ausência de plantas vivas (cultivadas ou voluntárias) nas lavouras de culturas como soja, feijão e algodão. Em cumprimento as normativas estaduais neste período, todas as espécies voluntárias, hospedeiras de pragas-alvo e doenças devem ser destruídas mediante o uso de produtos químicos ou métodos físicos, como a utilização de grade, dentro do prazo estipulado. Nos períodos de vazio sanitário já vigentes, temos destaque para o da soja, que ocorre entre junho e setembro, variando de acordo com a legislação de cada Estado.
Atualmente, 12 estados adotam o regime de vazio sanitário regulamentado: Tocantins, Maranhão, Pará, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Goiás, Paraná, Minas Gerais, Rondônia e São Paulo. Os agricultores que não cumprirem o vazio sanitário estarão sujeitos a penalidades. Esse período sem o cultivo da oleaginosa ocorre para evitar os problemas relacionados ao fungo da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). Esse fungo é biotrófico, ou seja, necessita de plantas vivas de soja ou outro hospedeiro para sobreviver. Por isso, o período de vazio sanitário diminui o aparecimento de inóculo da doença reduzindo a quantidade de tecido vivo disponível para o fungo, minimizando ou retardando sua ocorrência.
Dentre os benefícios do vazio sanitário destacamos a queda na ocorrência da doença e/ou pragas-alvo, o que reduz a necessidade de outros métodos de controle e, consequentemente, acaba sendo uma economia nos custos de produção.
O período de ausência de plantas hospedeiras pode ajudar na diminuição populacional de outras pragas, como a mosca branca (Bemisia tabaci) e a lagarta Helicoverpa armigera, mesmo apresentando outros hospedeiros principais. Essas pragas têm se tornado grande problema, principalmente a lagarta H. armigera, a qual aumentou consideravelmente sua população na última safra e já tem causado danos econômicos muito elevados.
Outra preocupação que estamos vivenciando são os surtos de cigarrinhas como inseto vetor na transmissão de Enfezamentos e Viroses na cultura do milho. Com a adoção maciça de Safrinha no sequeiro nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, e no sistema irrigado no Oeste da Bahia, essa praga vem causando graves danos, impossibilitando a produção agrícola de milho nestes locais. Através disto, é perceptível a necessidade do vazio sanitário.
Com um cenário de constantes mudanças no ambiente rural, o aparecimento de novas pragas e doenças nos forçam a fazer uso de diferentes práticas de manejo visando seu controle e viabilizando o cultivo. Por esse motivo, o respeito às práticas estabelecidas nos vazios sanitários é de suma importância para garantirmos uma produção cada vez maior, sem elevados custos e com menor impacto ambiental.
Abaixo seguem alguns exemplos de datas de vazio sanitário para regiões produtoras no Brasil: