Desde o início da série histórica, o ano de 2015 foi o que teve maior participação do agronegócio na balança comercial brasileira, com 46,2% de participação entre tudo o que foi exportado (MAPA, 2016). A soja está entre as culturas de maior relevância econômica para o Brasil, com 33 milhões de hectares plantados na safra 2015/2016, correspondendo a mais de 56% da área plantada com grãos. A produção, só não foi maior devido aos problemas climáticos, estabelecendo-se em 95,6 milhões de toneladas (CONAB, 2016).
Esses índices foram atingidos, ano após ano, com recordes de produtividade sendo batidos. Isso se deve à evolução do conhecimento e dos avanços tecnológicos disponibilizados aos agricultores, além da interação entre o potencial genético das novas cultivares com o ambiente. Nesta evolução, um dos pontos chave refere-se à plantabilidade, que é a distribuição precisa da semente em relação à quantidade e distância entre elas, evitando falhas e duplas e obtendo espaços equidistantes entre as mesmas.
Lavoura de soja com distribuição adequada
Mesmo a soja tendo certa capacidade de compensação em função da população de plantas obtida (plasticidade), sua produtividade é afetada com a variação dos espaços entre as sementes. Segundo Copetti (2003), quando há erros de semeadura, a soja suporta variações máximas de até 15% sem ocorrer prejuízo para a produtividade.
A má distribuição longitudinal das plantas diminui a eficiência no aproveitamento dos recursos disponíveis, como água, nutrientes e luz. O acúmulo de plantas pode provocar o desenvolvimento de indivíduos de maior porte, menos ramificados, com produção individual reduzida, menor diâmetro de haste, problemas com enraizamento e, portanto, maior propensão ao acamamento (ENDRES, 1996). Já os espaços vazios ou falhas, além de facilitar o desenvolvimento de plantas daninhas, levam ao estabelecimento de plantas de porte reduzido, com caule de maior diâmetro, mais ramificadas e com maior produção individual. (TOURINO et al., 2002)
Lavoura com duplas
A correta distribuição de sementes no leito de semeadura é um fator fundamental para o aumento da produtividade. Além de estar atrelado a possíveis economias em relação à quantidade de semente utilizada, herbicidas, fungicidas e colheita.
São alguns dos fatores que afetam a plantabilidade:
Tratamento de Sementes e utilização de grafite;
Uniformidade da semente e escolha do disco;
Equipamento dosador e regulagem;
Velocidade de semeadura;
Tubo condutor de semente;
Biomassa de cobertura.
O Tratamento de Semente com fungicidas, inseticidas, inoculante, entre outros, é essencial para o estabelecimento de uma população de plantas adequada e com qualidade. Porém, esses produtos alteram as características da superfície da semente, aumentando o atrito, prejudicando a sua movimentação no depósito, nos discos e nos sistemas distribuidores da semeadora, tornando necessária a utilização de um lubrificante seco que diminua este atrito e melhore seu escoamento. Neste caso, o produto que melhor se encaixa é o grafite. Por outro lado, o grafite em excesso, aliado a baixa manutenção, também é prejudicial, podendo atrapalhar o sistema, formando crostas e obstruindo os orifícios dos discos das semeadoras pneumáticas. A quantidade recomendada está em torno de 5g de grafite por kg de semente de soja.
Benefícios do uso do grafite
A escolha do disco a ser utilizado em sistemas mecânicos tendo como base o tamanho (diâmetro) da soja é fundamental. Dependendo da peneira em que cada lote e cultivar de soja for classificado, seleciona-se o disco mais adequado com seu anel correspondente. Recomenda-se fazer essa determinação após o tratamento de sementes, uma vez que muitos produtos podem modificar, mesmo que pouco, as dimensões da semente. Deve-se observar um encaixe adequado entre a semente e o orifício, permitindo a passagem fácil e, ao mesmo tempo, não possibilitar que duas ou mais sementes ocupem o mesmo orifício, causando erros de dosagem.
Vale ressaltar a importância da utilização de sementes classificadas, pois elas possuem uniformidade quanto as suas dimensões. Para cada formato e tamanho de semente existe um disco correto a ser empregado. Variações quanto ao tamanho das sementes prejudicam a regulagem adequada dos eliminadores de duplas. Não atentar para essas especificações resulta em uma semeadura de má qualidade, com falhas e/ou duplas, além da possibilidade de causar dano mecânico à semente.
Para o caso da semeadora com sistema pneumático, a escolha do disco se torna mais prática, porque o mesmo disco destinado para a cultura da soja pode ser utilizado para uma variedade maior de tamanhos de semente, sem necessidade de troca. Todavia, esta facilidade com os discos não elimina a necessidade do uso de sementes com uniformidade de tamanho, devido ao emprego dos eliminadores de duplas (raspador de semente), que tem o seu ajuste prejudicado caso haja elevada variação de tamanho.
Os principais mecanismos dosadores existentes no mercado nacional são basicamente: os mecânicos com discos horizontais e os pneumáticos. O sistema mecânico com disco horizontal, com a regulagem correta e velocidade adequada, pode realizar plantios com uma qualidade bem satisfatória. Para esse sistema existe uma variabilidade de discos com diferentes tamanhos, números de orifícios e anéis. Esse sistema trabalha com discos que se deslocam conforme o movimento da semeadora, fazendo com que as sementes alojem se nos orifícios onde são dosadas. Há também o dispositivo raspador (eliminador de duplas), que retira o excesso de sementes presas, individualizando-as, o qual deve ser corretamente regulado dependendo das características da semente (por isso, a importância da utilização de sementes classificadas). Dentro da câmara, há um ejetor em cada fileira de orifícios, que expulsa a semente em direção ao tubo condutor. Atenção à velocidade empregada, pois se for muito elevada, as sementes não conseguirão se alojar nos discos.
Os equipamentos pneumáticos possuem maior precisão com a dosagem das sementes. Geralmente, operam com discos perfurados rotativos, onde as sementes, por ação de vácuo, são forçadas a aderir aos alvéolos, sendo liberadas em uma abertura em que o efeito do ar é minimizado, e após, seguem para o tubo condutor. Neste equipamento também existe o dispositivo eliminador de duplas, que individualizam as sementes, eliminando o excesso. Da mesma forma, como é para equipamentos mecânicos de discos horizontais, é importante adquirir sementes uniformes, para a correta regulagem dos raspadores. Outro ponto que exige atenção é o ajuste do fluxo de ar (vácuo), maior ou menor, conforme as características das sementes, como por exemplo: peso e formato.
Raspador de sementes
É importante ressaltar que para esse tipo de equipamento as sementes possuam bons índices de pureza, se trabalhe com quantidades adequadas de grafite e a manutenção preventiva seja feita para evitar o entupimento dos orifícios dos discos (o que afetaria a população final). Este tipo de semeadora comporta o emprego de velocidades um pouco acima do que é recomendado para equipamentos mecânicos com disco horizontal.
A velocidade empregada durante a semeadura corresponde a um dos parâmetros mais críticos e muitas vezes negligenciados, atingindo, em certos casos, velocidade superior a 12 km/h. A velocidade de semeadura tem relação direta com a quantidade de falhas e sementes duplas, o que interfere no estande final e, consequentemente, na produtividade da cultura. Segundo Furlani, com o aumento da velocidade de deslocamento influencia-se negativamente a regularidade de distribuição, diminuindo a porcentagem de espaçamentos normais.
Dados de pesquisa e observação a campo demonstram que com os equipamentos utilizados hoje pelos produtores, o emprego de velocidades acima de 8 km/h retira desses equipamentos o caráter de precisão, reduzindo a qualidade de semeadura e aumentando as sementes duplas e falhas. Para equipamentos mecânicos de disco recomenda-se velocidade entre 4 a 6 km/h, e para pneumáticos até 8 km/h.
Jazper et al. (2011) comprovou, ao confrontar uma semeadora mecânica com discos horizontais e uma semeadora pneumática, que a distribuição longitudinal de sementes do sistema pneumático foi melhor, mesmo elevando a velocidade. Com essa elevação de velocidade, os espaços múltiplos aumentaram e os espaçamentos aceitáveis reduziram, mesmo assim, sempre com valores melhores do que os encontrados com a semeadora mecânica com disco horizontal.
Chaves (2015), em seu trabalho, relacionando diferentes sistemas de plantio com velocidades entre 4 a 8 km/h, utilizando uma semeadora pneumática, demonstrou redução da produtividade conforme o aumento da velocidade. Segundo seu estudo, a velocidade que entregou a melhor produtividade ficou em 5,5 km/h, fator relacionado à maior quantidade de vagens e o estande de plantas.
Dependendo da velocidade utilizada na semeadura, haverá interferência no sistema dosador, o que prejudicará o sistema que individualiza as sementes, assim como a passagem por ele, pelo tubo condutor, e também a velocidade em que a semente chegará ao sulco de plantio. Além disso, com o aumento de velocidade se revolve mais o solo com a abertura e fechamento de sulco, impactando também na variação de profundidade da semente.
As sementes liberadas pelo mecanismo dosador adquirem, em queda livre, um componente vertical de velocidade por causa da aceleração da gravidade, e um componente horizontal decorrente da velocidade de avanço da semeadora. O componente horizontal faz com que as sementes se choquem com as paredes do tubo condutor, alterando o tempo de queda livre das sementes até o solo e, como consequência, altera o espaçamento entre as mesmas. Além disso, alta velocidade de trabalho faz com que as sementes rolem e/ou saltem para fora do sulco no momento do impacto com o solo. É sempre desejável que o componente horizontal seja minimizado para que as sementes sejam depositadas regularmente no sulco (PACHECO et al,.1996). Outro fator que interfere no deslocamento da semente pelo tubo condutor é o estado de conservação. A existência de amassados, dobras, calosidades e cortes, atrapalham o fluxo livre e correto das sementes. O vídeo abaixo demonstra como problemas no tubo condutor podem afetar a distribuição uniforme na semeadura.
A importância da cobertura vegetal (palhada) sobre o solo é incontestável, porém, essa camada pode interferir na correta distribuição das sementes caso a semeadora não seja regulada de forma adequada. Nestas áreas, as semeadoras devem possuir discos de corte a frente das unidades de semeadura que consigam cortar o material vegetal proporcionando a abertura do sulco e deposição da semente. A cobertura vegetal deve estar seca ou verde, evitando trabalhar com a palha murcha, o que dificulta o seu corte devido a maior resistência, podendo causar “embuchamentos” ou o aprofundamento da massa vegetal no interior do sulco fazendo com que a semente fique depositada sobre a palhada, prejudicando sua germinação. Além disso, é importante atentar para a pressão das molas e tamanho dos discos de corte, e também para a regulagem dos conjuntos semeadores (carrinhos) conforme a quantidade e tipo de palhada.
Sementes depositadas em superfície devido à má qualidade da regulagem da semeadora
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Helder Roberto Dota Janoselli
Agrônomo de Campo na Pioneer®
Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. Acompanhamento da safra brasileira de grãos. Observatório Agrícola. V.3-Safra 2015/2016 – Décimo levantamento. 2016.
COPETTI, E. Plantadoras: Distribuição de sementes. Cultivar Máquinas, Pelotas, n.18, p.14-17, 2003. CHAVES, R. G. Sistemas de Manejo do solo e velocidade de semeadura da soja. Dourados/UFGD-MS, 2015. 46p. ENDRES, V.C. Espaçamento, densidade e época de semeadura. In: EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste (Dourados, MS). Soja: recomendações técnicas para Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Dourados, 1996, p.82-85. (Circular Técnica, 3).
FURLANI, C. E. A.; JÚNIOR, A. P.; CORTEZ, J. W.; SILVA, R. P. E.; GROTTA, D. C. C. Influência do manejo da cobertura vegetal e da velocidade de semeadura no estabelecimento da soja (Glycine max). Engenharia na Agricultura, Viçosa, v.18, n.3, p. 227-233, 2010.
JASPER, R.; JASPER, M.; ASSUNPÇÃO, P. S. M.; ROCIL, J.; GARCIA, L. C. Velocidade de semeadura da soja. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.31, n.1, p. 102-110, 2011.
Ministério da Agricultura – MAPA. Acesso em 09 de agosto de 2016. Disponível em:
http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2016/01/volume-exportado-de-soja-em-grao-milho-cafe-frango-e-celulose bate-recorde-em-2015
PACHECO, E.P.; MANTOVANI, E.C.; MARTYN, P.J.; OLIVEIRA, A. C. Avaliação de uma semeadora-adubadora de precisão. Pesquisa
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RAMBO L.; COSTA, J.A.; PIRES, J.L.F.; PARCIANELLO, G.; FERREIRA, F.G. Rendimento de grãos de soja em função do arranjo de planta. Ciência Rural, v.33, n.3, Brasil, p.405-411, 2003.
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