09/09/2025

Rotação ou sucessão de culturas: qual sistema traz mais produtividade de soja?

Foto: Pioneer® 
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Rotação ou sucessão de culturas: qual sistema traz mais produtividade de soja?

No Brasil, o sistema de produção de soja é bastante diversificado, variando desde a rotação de culturas até a sucessão de culturas. O sistema de sucessão é amplamente adotado por produtores de grandes culturas, como soja e milho de segunda safra, onde essa prática é viável, por otimizar o uso do solo, do maquinário e gerar boa rentabilidade ao longo do tempo.

A utilização contínua da sucessão soja/milho promove alterações químicas, físicas e biológicas que podem comprometer a sustentabilidade e a estabilidade do sistema produtivo no médio e longo prazo. Um sistema pouco diversificado pode acarretar consequências como:

  • aumento da morte prematura de plantas com doenças radiculares;
  • aumento na ocorrência de pragas e de plantas daninhas de difícil controle;
  • redução da matéria orgânica do solo e degradação da estrutura (compactação e erosão);
  • diminuição da atividade e da diversidade biológica do solo.

O conjunto dessas alterações resulta em menor resistência da cultura da soja a estresses abióticos e bióticos, refletindo em maior instabilidade produtiva e elevação dos custos de produção.

Objetivo

Estudar o efeito de quatro sistemas de cultivo sobre: a matéria orgânica; as características físicas, químicas e biológicas do solo; a produção de matéria seca; a população de nematoides no solo; e a produtividade em sete anos.

Metodologia

O experimento foi instalado na safra de inverno de 2023, na fazenda-escola da Faculdade Assis Gurgacz (FAG), localizada no município de Cascavel, região oeste do estado do Paraná, sul do Brasil. O ensaio foi conduzido em Latossolo Vermelho distrófico, nas coordenadas latitude -24.938125 e longitude -53.510985, a aproximadamente 760 metros de altitude. A região apresenta temperatura média anual de 19°C e precipitação anual variando de 1.800 a 1.900 mm.

Foram avaliados quatro diferentes sistemas de produção:

  1. Sucessão milho + Brachiaria sp. e soja;
  2. Rotação de culturas;
  3. Sucessão milho + aveia e soja;
  4. Sucessão milho safrinha e soja.

Cada sistema foi composto por parcelas de 0,27 hectare (Foto 1).

Foto 1 - 1. Sucessão milho + Brachiaria sp. e soja; 2. Rotação de culturas; 3. Sucessão milho + aveia e soja; 4. Sucessão milho safrinha e soja.
Foto 1 - 1. Sucessão milho + Brachiaria sp. e soja; 2. Rotação de culturas; 3. Sucessão milho + aveia e soja; 4. Sucessão milho safrinha e soja.

A semeadura das culturas instaladas foi realizada com a semeadora Momentum, de 24 linhas, para soja e milho, e a semeadura das culturas de inverno foi feita com a semeadora Vence Tudo Pampeana 2800. Os manejos culturais foram realizados com o pulverizador MF9130, para aplicação de inseticidas, herbicidas e fungicidas, e as colheitas, com a colheitadeira MF9695, pertencente à fazenda-escola da FAG (Foto 2). O ajuste populacional foi uniforme em todas as culturas, seguindo as recomendações regionais.

Foto 2 - Maquinário utilizado na condução do ensaio de sistemas de produção.
Foto 2 - Maquinário utilizado na condução do ensaio de sistemas de produção.

Os parâmetros agronômicos avaliados e discutidos neste informativo correspondem aos critérios que apresentaram diferenças mais significativas durante as quatro safras conduzidas até o momento. Foram eles: avaliação de nematoides, matéria seca e produtividade de cada sistema de produção.

Os demais critérios (como matéria orgânica e características físicas, químicas e biológicas do solo), por se tratar de um trabalho recente, ainda não permitem comparações, pois exigem mais tempo para que mudanças sejam perceptíveis, já que são atributos de modificação lenta. Trata-se, portanto, de um trabalho de longa duração.

Para a avaliação de nematoides no solo, foram coletadas amostras de solo e raízes na camada de 0 a 30 cm de profundidade, seguindo caminhamento em zigue-zague em cada plot de sistema de produção. Cada amostra composta foi formada por cinco subamostras, coletadas no florescimento de cada cultura, com duas repetições por plot. As amostras compostas continham, no mínimo, 500 g de solo e 200 g de raízes.

A quantidade de palha residual foi determinada por meio do lançamento de um gabarito com área de 1 m² (1 m x 1 m) (Foto 3), repetido quatro vezes, e posteriormente calculou-se a média dos valores obtidos. Esse procedimento foi realizado em cada cultura de cada sistema de produção.

A produtividade foi obtida por meio da colheita e pesagem dos grãos de cada plot de cada sistema de produção, sendo os valores convertidos para kg ha⁻¹ e devidamente corrigidos para 13% de umidade.

Foto 3 - Quadro para determinar matéria seca no milho safrinha (A), Trigo (B) e Mix (C e D).
Foto 3 - Quadro para determinar matéria seca no milho safrinha (A), Trigo (B) e Mix (C e D).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliação de nematoides

Observa-se, na Tabela 1, que o sistema de rotação manteve níveis baixos de nematoides independentemente da safra. Já os sistemas com sucessão de culturas apresentaram níveis mais elevados de Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões) em comparação ao sistema de rotação de culturas.

A rotação de culturas pode ser utilizada como ferramenta dentro do manejo integrado, com o objetivo principal de reduzir a densidade populacional de nematoides.

Dados foram coletados na primeira avaliação do ensaio de sistemas de produção (safra inverno 2023) e na última avaliação (safra 2024/25).

Tabela 1 – Quantidade de nematoides Helicotylenchus spp., Scutellonema spp. e Pratylenchus brachyurus em 10 g de raiz.
Tabela 1 – Quantidade de nematoides Helicotylenchus spp., Scutellonema spp. e Pratylenchus brachyurus em 10 g de raiz.

Densidade de fitonematoides por 10 g de raiz: Helicotylenchus spp. – baixo (0 a 800), médio (801 a 2.000) e alto (2.001 a 4.000); Pratylenchus brachyurus – baixo (0 a 80), médio (81 a 250) e alto (251 a 900). Não há tabela de referência para o nematoide Scutellonema. Dados adaptados de Asmus (2000; 2001); Fundação P&D Tecnologia – Rio Verde (2013); APROSMAT (2012; 2013); Stephen Koenning (Universidade da Carolina do Norte, EUA – 1985; 2007); Taylor (1971); Barker et al. (1976).

Matéria seca

O sistema de produção com rotação de culturas apresentou maior produção de matéria seca, totalizando 49,9 t/ha no somatório das quatro safras avaliadas, com média 28,8% superior à dos três sistemas de sucessão de culturas (Gráfico 1).

No sistema de sucessão milho consorciado com Brachiaria e, posteriormente, soja, foi utilizada a espécie Brachiaria ruziziensis na safrinha 2023. A semeadura foi realizada na entrelinha, no sistema de linhas gêmeas pareadas (linhas duplas com espaçamento de 0,50 m x 1 m), quando o milho estava no estádio fenológico V4. A produção foi de 1,85 t/ha, resultado da semeadura tardia do milho safrinha, o que gerou um intervalo de um mês entre a colheita do milho e a semeadura da soja.

Já na safrinha 2024, no mesmo sistema de sucessão (milho consorciado com Brachiaria e depois soja), foi utilizada a espécie Brachiaria brizantha, semeada quando o milho estava no estádio fenológico V3/V4. Devido ao desenvolvimento mais lento da Brachiaria, a produção foi de 1,43 t/ha de matéria seca (Gráfico 2).

Gráfico 1 – Produção de matéria seca de cada sistema de produção.
Gráfico 1 – Produção de matéria seca de cada sistema de produção.
Gráfico 2 - Produção de matéria seca - Brachiaria ruziziensis na safrinha 2023 e Brachiaria brizantha na safrinha 2024.
Gráfico 2 - Produção de matéria seca - Brachiaria ruziziensis na safrinha 2023 e Brachiaria brizantha na safrinha 2024.

Produtividade da soja após quatro safras

Conforme o Gráfico 3, apresentam-se os dados meteorológicos de Cascavel na safra 2024/2025, quando todos os sistemas de produção estavam cultivando soja. No período final de enchimento de grãos, ocorreu um déficit hídrico de 20 dias, associado a altas temperaturas no estádio fenológico R5.4 a R5.5.

Na Imagem 1, observa-se que, no sistema de sucessão milho safrinha e soja, houve perda de área foliar verde, caracterizada pela morte prematura das folhas (senescência prematura das plantas).

Gráfico 3 – Dados de precipitação (mm) e temperatura mínima e máxima (°C) da região de Cascavel-PR | Fonte: INMET.
Gráfico 3 – Dados de precipitação (mm) e temperatura mínima e máxima (°C) da região de Cascavel-PR | Fonte: INMET.
Imagem 1 – Ortomosaico obtido com imagens de drone da área (A) e ortomosaico de saúde vegetal da lavoura em destaque. Imagem de 10 de janeiro de 2025.
Imagem 1 – Ortomosaico obtido com imagens de drone da área (A) e ortomosaico de saúde vegetal da lavoura em destaque. Imagem de 10 de janeiro de 2025.

O sistema de rotação de culturas, após completar o ciclo de quatro safras, apresentou produtividade 15% superior à do sistema de sucessão milho safrinha e soja (Gráfico 4). O ensaio corrobora os resultados de Franchini et al. (2011), nos quais a produtividade média da soja em rotação com milho, em comparação à sucessão com trigo, apresentou ganho acumulado de 17%.

Gráfico 4 – Produtividade de soja na safra 2024/2025 em cada sistema de produção.
Gráfico 4 – Produtividade de soja na safra 2024/2025 em cada sistema de produção.
Foto 4 – Colheita de soja nos quatro sistemas de produção na safra 2024/2025, em Cascavel-PR.
Foto 4 – Colheita de soja nos quatro sistemas de produção na safra 2024/2025, em Cascavel-PR.

Conclusão

O sistema de rotação de culturas, após completar o ciclo de quatro safras, apresentou, em comparação aos outros três sistemas de produção, nível baixo de nematoides, maior produção de matéria seca no somatório das quatro safras avaliadas e maior produtividade de soja.

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Referências

Seixas, C. D. S.; Neumaier, N.; Balbinot, A. A. J.; Krzyzanowski, F. C.; Leite, R. M. V. B. de C.; Tecnologias de Produção de Soja., Londrina: Embrapa Soja. 2020 347 p. (Embrapa Soja. Sistema de Produção n°17).

Franchini, J. C. de A.; Costa, J. M. da; Debiasi, H.; Torres, E. Importância da rotação de culturas para a produção agrícola sustentável no Paraná, Londrina: Embrapa Soja. 2011. 50 p. (Embrapa Soja. Documentos, 327).

Agradecimentos

Agradecimento pelo apoio na condução do ensaio “Sistema de Produção” à Fundação Assis Gurgacz; aos funcionários da fazenda-escola FAG: Helmuth Bleil Jr., Paulo L. Cordeiro, Clóvis Garcia, Izabeli Zaina, Julia, Marcio Messias, Maycon Scharb e Anderson Ramos; ao Grupo Koelpe de Castro, pelo fornecimento da semente de aveia branca IPR Esmeralda (2023); à Sementes Tormenta, pela aveia AF1355 ucraniana, mix de aveia e nabo e trigo mourisco; ao Engenheiro Agrônomo Cesar Veronese, pela semente de trigo mourisco; ao DSM da Pioneer® Sérgio Watanabe; ao FBL da Pioneer® Ariel Monzon Benitez; e ao Líder da Marca Pioneer® BR & PY Rafael Seleme.

Autores

  • Fernando S. Zanatta – Agrônomo de Campo Pioneer®;
  • José C. Madaloz – Gerente de Agronomia Pioneer® Sul;
  • Daian Rozzetto – Agrônomo de Campo Pioneer®;
  • Richard Mello – Agrônomo de Campo Pioneer®;
  • André Prediger – Representante Comercial Pioneer®;
  • Guilherme Bonifácio – Aluno FAG e estagiário da Revenda Andreis.