Com a crescente necessidade de substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis e sustentáveis, o biodiesel surge como uma alternativa promissora, especialmente em países de clima tropical. Enquanto a soja continua sendo a principal matéria-prima para biodiesel no Brasil, novas alternativas vêm sendo pesquisadas. Entre elas, destaca-se o sorgo (Sorghum bicolor), uma planta versátil e resistente, com potencial para produção de óleo vegetal utilizado na fabricação de biodiesel.
O sorgo é uma gramínea de origem africana amplamente cultivada em regiões áridas e semiáridas devido à sua tolerância à seca, capacidade de crescimento rápido e baixo custo de produção. Existem diferentes tipos de sorgo (granífero, forrageiro, sacarino e biomassa), mas para a produção de biodiesel, o foco recai sobre o sorgo oleaginoso – variedades com maior teor de óleo em suas sementes.
Embora o teor de óleo das sementes de sorgo seja inferior ao de outras culturas oleaginosas, como a soja e o girassol, estudos indicam que ele pode alcançar de 8% a 12% de óleo, dependendo da variedade e do manejo agronômico. Além disso, o óleo de sorgo possui perfil favorável de ácidos graxos, com predominância de ácido linoleico e oleico, o que o torna adequado ao processo de transesterificação, base da produção de biodiesel.
Entre os principais benefícios do uso do sorgo na produção de biodiesel estão sua adaptabilidade climática, a possibilidade de cultivo em áreas marginais (solos de baixa fertilidade e com menos chuvas), o curto ciclo de produção (100 a 120 dias), e o fato de não competir diretamente com alimentos em determinadas regiões. Além disso, os resíduos do processamento do grão podem ser aproveitados como ração animal ou biomassa energética.
Em termos de produtividade, os rendimentos ainda são modestos em comparação com outras culturas, mas pesquisas vêm sendo conduzidas com o objetivo de desenvolver híbridos específicos com maior acúmulo de óleo. Estima-se que, com boas práticas agrícolas e híbridos melhorados, seja possível obter até 800 kg de óleo por hectare, o que representa cerca de 900 litros de biodiesel.
No entanto, alguns desafios precisam ser superados para a consolidação do sorgo como matéria-prima de biodiesel. A ausência de um mercado estruturado para o sorgo oleaginoso, o baixo teor de óleo em híbridos comerciais e a falta de incentivos específicos dificultam sua adoção em larga escala. Ainda assim, o sorgo representa uma opção estratégica para regiões que não dispõem de infraestrutura adequada para culturas mais exigentes.
Além do aspecto produtivo, o sorgo possui potencial para compor sistemas agrícolas sustentáveis. A rotação de culturas com sorgo pode melhorar a fertilidade do solo e reduzir a incidência de pragas e doenças. O uso de sorgo em sistemas integrados de produção energética, como biorrefinarias, também amplia sua viabilidade econômica e ambiental.
Por fim, o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à diversificação das matérias-primas para o biodiesel e o incentivo à pesquisa genética do sorgo são fundamentais para sua consolidação. Com investimentos em ciência e tecnologia, o sorgo pode ocupar um papel relevante na matriz energética renovável do Brasil, contribuindo para a segurança energética e para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Portanto, embora ainda em fase inicial de exploração para este fim, o sorgo demonstra grande potencial como fonte alternativa para a produção de biodiesel, especialmente em contextos em que a resiliência agrícola e o aproveitamento de recursos naturais limitados são fundamentais.
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Autor: Anderson Pessotto, agrônomo de campo Pioneer®.
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). Brasília: MME, 2017.
EMBRAPA. Sorgo: alternativas para a produção de energia e ração animal. Disponível em: www.embrapa.br. Acesso em: maio 2025.
SILVA, J. A. et al. Potencial do sorgo oleaginoso na produção de biodiesel. Revista Brasileira de Energias Renováveis, v. 7, n. 2, 2023.